Um verdadeiro changeman

Você conhece bem a história: um homem abre a porta para uma mulher e faz de tudo para que ela não precise mover uma palha sequer. Puxa a cadeira, acende o cigarro dela, paga a conta, não deixa ela andar pelo lado externo da calçada e há até os que fazem questão de fazer a declaração do imposto de renda para a moçoila!

Esse homem fica bastante chateado se disserem que essa gentileza seletiva (que ele dedica apenas a mulheres) está fora de moda. Esse homem acha que, se não for possível ser um gentleman nesse mundo, então só resta a ele a opção de ser um truculento sem educação que cospe no chão, peida na mesa de jantar e está pouco se importando se aquela pessoa carregando um monte de sacolas vai conseguir abrir a porta sozinha.

Há muito tempo, conheci um cara muito simpático que me ajudou a subir com as compras até meu apartamento. Impressionada com a disposição do sujeito, agradeci:

– Nossa, você é um gentleman.

– Não. Eu sou um changeman! – ele respondeu.

Achei que ele estava apenas tentando fazer um trocadilho ruim, até que ele fez a coreografia de transformação na minha frente. Naquele momento eu descobriria a diferença entre um gentleman e um changeman.

Dá o play e vem comigo.

Um changeman não abre portas para uma dama indefesa. Ele abre para quem quer que esteja vindo atrás dele, seja uma senhora, seja o porteiro, seja uma criança de dois anos, seja um lutador de vale-tudo. Um changeman só não abre portas para monstros alienígenas gigantes.

Um changeman não é necessariamente um homem – estão aí a Change Phoenix e a Change Mermaid para mostrar que mulher também pode ser changeman e desempenhar feitos heróicos, como ceder lugar para os mais velhos no ônibus ou segurar a mochila de alguém que está em pé no corredor do coletivo.

Um changeman não estende seu casaco numa poça d’água para a sua dama passar, porque isso é idiota. Além do mais, quem ainda faz isso, meu deus?

"tá pesado isso, né? pode deixar que a gente ajuda a carregar"
“tá pesado isso, né? pode deixar que a gente ajuda a carregar”

Um changeman também não faz questão de pagar a conta do restaurante se a sua companheira também pode pagar. E, mesmo quando resolve pagar a conta, um changeman jamais pensa que a outra pessoa lhe deve qualquer coisa, muito menos sexo, por esse seu ato descompromissado de gentileza. Um changeman nunca espera algo em troca das coisas que faz pelas pessoas.

Um changeman lava a louça e não espera uma chuva de confetes por ter feito uma tarefa tão básica quanto limpar a própria bunda. Um changeman só espera os parabéns por salvar a humanidade destroçando um vilão maligno com sua bazuca; logo, lavar a louça não é nada demais para quem está acostumado a grandes feitos. Um changeman sabe que lavar a louça ou arrumar a casa não pode sequer ser considerada uma gentileza, é uma obrigação.

Aliás, um verdadeiro changeman vê cada ato de gentileza como uma obrigação. Ser gentil e ter empatia é o mínimo para qualquer ser humano decente. Para um integrante do Esquadrão Relâmpago, então, é indispensável. Um changeman sabe que não é ser gentil com todos que o torna especial; mas sim ter super poderes para combater o Senhor Bazoo. Ser gentil é o normal, o básico.

Um changeman não vê gênero na hora de ser gentil. Ele é gentil e pronto, pois isso faz parte de sua missão como defensor da Terra. Ao contrário de um gentleman, que só pode ser homem e só faz gentilezas com mulheres, um changeman pode ser homem ou mulher e não usa a gentileza para ser condescendente com ninguém. É por isso que um changeman tem um robô gigante e um gentleman não.

Simples, né?