Nunca leia os comentários

Poucos conselhos são tão valiosos quanto o que tenho para você hoje. E tenho quase certeza de que mesmo quando eu estiver velhinha, mesmo com toda a experiência de, sei lá, mais sessenta anos vividos, não terei outro conselho mais importante para oferecer a esta ou a futuras gerações. Aliás, mais que um conselho, considere um alerta. É coisa séria.

Então te faço esse apelo e preste bastante atenção: nunca leia os comentários.

Não importa se é um portal de notícias ou um blog de ficção e assuntos inofensivos. Aliás, mesmo os assuntos mais inofensivos são capazes de gerar os comentários mais tenebrosos, desses que revelam o mais inominável terror que habita o ser humano. Não há nada para você lá, acredite.

A caixa de comentários é um caminho sem volta. Um faroeste sem leis. Um circo de horrores. O sétimo círculo do inferno, o castelo do Bowser, o abismo do Sonic, um buraco negro suspenso no espaço consumindo toda a luz ao seu redor. É o lar de Cthulhu.

O que raios você quer fazer lá, além de arrumar uma úlcera nervosa? Você não vai encontrar em uma caixa de comentários as respostas fundamentais sobre a vida e o universo, nem qualquer coisa minimamente construtiva para a humanidade. Com muita sorte, vai achar um comentário sem nenhuma falácia argumentativa – e olhe lá.

Gosta de sofrer? Peça pra alguém vestido de couro te dar umas chicotadas, vá comer wasabi de colherada, tome banho gelado no inverno. Qualquer coisa que essa sua cabecinha masoquista maquinar para o suplício do seu corpo e de sua alma. Mas nunca leia os comentários.

Sério. Não vale o sofrimento. A vida é curta; e, mesmo se fosse infinita, não valeria a pena.

Eu garanto: o dia ganha três horas a mais quando você deixa de ler os comentários. Seu intestino funciona melhor, sua pele fica mais macia, a vida parece ser mais suportável.

Mas evitar cair na piscina de estrume neste enorme quintal da vida que chamamos de internet é um esforço diário. Às vezes você tropeça. Às vezes você se sente como se tivesse a cara sendo arrastada no asfalto. Às vezes o estrago é feio. Hoje mesmo, por exemplo, caí acidentalmente numa caixa de comentários. Acho que torci o pé. E então eu repito para mim mesma: nunca leia os comentários, nunca leia os comentários. Nunca. Leia. Os. Comentários.

Isso mesmo, não entre numa caixa de comentários nem se for para resgatar sua mãe. Nem que te paguem. Não, nem se a humanidade estiver sendo ameaçada por uma raça alienígena belicosa cujo ponto fraco foi citado em um comentário perdido numa notícia sobre celebridade flagrada pagando peitinho. Aliás, o maior motivo para essa raça alienígena ameaçar destruir a humanidade é justamente a insanidade que emana das caixas de comentários. Certos estão eles. Não tente impedi-los.

Acredite: você não vai perder nada deixando de ler os comentários. Talvez apenas o risco de ter um derrame cerebral.

Para a sua segurança, este blog está fechado para comentários, de forma a impedir que você tropece num deles e tenha uma fratura no crânio. De nada.

Este texto é dedicado a todas as pessoas que ainda se perdem ao teimar em ler os comentários, especialmente a um grande amigo que está viciado em ler comentários e entrar em contato com o crème de la crème da escrotidão das pessoas. Sai dessa, cara.

Agora, se você é desses que ESCREVEM os comentários que infestam de chorume este universo, eu não tenho nada a te dizer. Aliás, espero que você tenha caganeira.

Leia também: Tumultuando o debate.

Imagem do filme A Clockwork Orange.