Meu ranço de clichês

Clichês eram placas de metal usadas para economizar o trabalho do tipógrafo, quando impressoras eram enormes máquinas de carimbar letras, posicionadas uma a uma para compor uma página. Algumas palavras eram repetidas com mais frequência – estas viravam clichês, ou seja, placas de metal com a palavra completa gravada nelas.

Clichê é coisa velha, da época das prensas tipográficas. Ainda assim, é o que mais tem na internet. Podem ser frases, expressões, palavras ou mesmo formas de falar que são repetidas à exaustão. De repente, está todo mundo falando igual. 

Tá tudo bem. Gratidão. Empoderar. Representatividade. Contatinhos. Berro. Só que não. Lançar a braba. Chegou a diferentona. 

“É meme, sua burra!”

Quando você se dá conta, alguém que você gosta tem o triste fim de virar um repetidor de expressões da moda. Na verdade, nem você está imune. Ninguém está.

Por um lado, clichês são atalhos na compreensão. Sinalizam que você e o interlocutor estão na mesma frequência, bebem das mesmas referências. Geram uma conexão. São ideias encapsuladas num formato altamente transmissível. Fáceis de reproduzir, de passar adiante.

Por outro lado, atalhos podem ser usados como defesa. Pegar o caminho fácil das frases feitas para não precisar passar pelo trabalho de elaborar um raciocínio próprio, de vasculhar seu vocabulário e ver quais combinações interessantes surgem desse repertório interno.

Clichês podem até ser verdadeiros na lógica que carregam, mas há honestidade em aceitar a forma que suas próprias palavras encontram de fluir.

Frases de efeito e expressões do momento são pílulas de comunicação embaladas para consumo rápido. Não faz mal eventualmente recorrer a elas, mas não dá para se alimentar só de fast food.

Uma questão de medidas.

E também de entender o que pesa mais: a comunicação é mais eficiente quando é rápida ou quando expressa, com mais precisão, as ideias e sentimentos que alguém está tentando transmitir?

O que você realmente quer dizer para além de frases feitas por outra pessoa? 

Ou é para isso mesmo que servem os clichês: para não precisarmos colocar em palavras a substância cristalina e atordoante do nosso querer?