A pessoa que não quero ser

Fotografia: JD Hancock // Flickr Creative Commons

Acho muito difícil seguir modelos. “Quando crescer, quero ser igual (insira pessoa de sua admiração aqui)”. Além de alguns modelos serem simplesmente inalcançáveis, eu não sei dizer que tipo de pessoa eu gostaria de ser. Prefiro seguir por eliminação. Porque sei bem que tipo de pessoa eu NÃO quero ser.

A pessoa que não quero ser se preocupa demais em criticar a vida dos outros e escolhas alheias que nada interferem em sua própria vida.

A pessoa que não quero ser é aquela que faz comentários rudes e constrangedores porque acredita que está sendo “sincera”.

A pessoa que não quero ser é um monolito que acredita que tudo o que sempre foi deve continuar a ser, que não questiona as tradições, que tem pavor de mudanças.

Essa pessoa, a que não quero ser, vai fazer as coisas do jeito mais fácil, vai seguir a cartilha, vai fazer o que é esperado que ela faça.

A pessoa que não quero ser é aquela que não assume responsabilidade pelas coisas que diz ou faz.

Não quero ser a tia resmungona. Não quero ser a pessoa que chuta a poltrona da frente no cinema. Não quero ser a pessoa que coloca o som alto demais sem se importar com os vizinhos. Não quero ser a pessoa que corrige o português dos outros em público. Não quero ser a pessoa que faz montagens toscas para postar no Facebook.

Não quero ser a pessoa que comenta sem ler. Que chama a outra de vadia. Que agride desconhecidos pela internet. Que comenta “como fulana está gorda”. Que faz perguntas indelicadas. Que impede o companheiro de ter vida própria, como outro ser humano independente. Que se define pelas coisas que tem. Que vai limitar alguém por conta de seu gênero. Que se deixa limitar pelo que disseram que é mais adequado ao seu gênero. Que afirma coisas sem saber sobre o que está falando. Que não sabe dizer “não sei”. Que quer ter opinião sobre tudo.

Não ser essa pessoa é o trabalho mais difícil a qual me dedico. É um esforço diário. Então repito para mim mesma, o dia todo “não quero ser essa pessoa, não quero ser essa pessoa”, esperando que, no final das contas, tudo o que me resta ser que não seja essa pessoa me torne uma pessoa um pouco melhor.