A matemática da atenção

O fato de você estar lendo essa primeira frase já te coloca numa porcentagem muito especial. Você leu o título, você clicou, você abriu o texto. Você achou interessante, parou alguns minutos, passou do primeiro ponto final. Ops, terceiro agora. Não são todas as pessoas que vão tão longe, ainda mais com tantos estímulos, tudo tão acessível bem ali na janela mais próxima. Mas você não; você está aqui! 

Agora que você prestou atenção, talvez tenha percebido que é um caminho sem volta. Você pode até fechar o texto e voltar a rolar alguma timeline na janela ao lado, como um viciado decadente em caça-níqueis de cassino, mas vai ter que viver com o incômodo de que leu 119 palavras e ainda não entendeu qual é a proposta do título. Ao menos sabe que deve realmente se tratar sobre matemática, já que acabei de te jogar um número.

Este é o ponto em que te direciono uma pergunta, algo como: “você sabe qual é a fórmula para manter o interesse de alguém?” Algo que seja intrigante na medida certa; não pode ser complexo demais ou você vai desistir, pensar que não tem tempo para isso agora; também não pode ser nada cuja resposta possa ser um “não” ou um “foda-se”. Se a resposta for um “ok, duvido”, ou um “hmmm, conte-me mais”, temos alguma coisa. Não é muito, mas a ânsia pela resposta será o suficiente para eu te ter por mais alguns parágrafos.

Atenção é a moeda corrente dos nossos tempos. Hoje, as maiores corporações do mundo brigam a tapas pela sua atenção ou inventam formas novas de prendê-la por cada vez mais tempo. Jogar uma frase de impacto sobre os tempos atuais com uma observação superficialmente incontestável ajuda a desfazer sua sensação de que está sendo enrolado, afinal, estou te dando algumas informações e desenvolvendo um raciocínio aqui. Tudo isso porque sua atenção vale ouro. Não se sabe como se deu esse fenômeno, talvez os habitantes do futuro tenham alguma dificuldade em explicar, mas um monte de joinhas, coraçõezinhos ou um número redondo seguido de letras garbosas como um K ou um M passaram a ter poder de compra. No mínimo, de barganha.

Mesmo você, que está longe de ser uma grande corporação, tem sua própria fazenda de likes. Curtidas orgânicas, de cultivo próprio. Uma produção modesta, mas com boa demanda. Pense nisso: tem alguém te dando atenção, de alguma forma, agorinha mesmo! Esse é o momento em que eu viro o assunto pra você. Aí a coisa fica pessoal. Fica mais difícil deixar o texto pela metade depois que eu te mostro o que você tem a ver com a história, certo? Afinal, se você também participa desse mercado de atenção, vai se interessar pela tal fórmula para manter o interesse de alguém.

Sim, você tem o microfone na mão. Mas isso não adianta nada se você não tiver o que dizer. 

Se você prestou atenção no que eu te disse até agora, já tem boas pistas de qual é a fórmula. De qualquer forma, você chegou até aqui e merece alguma recompensa: a informação principal e alguns números que a façam parecer mais substancial. Manter a atenção de alguém é 27% fazer esse alguém se sentir importante (como, por exemplo, ser elogiado pelo esforço de ler tantas palavras ou simplesmente fazer a pessoa se sentir pertencente a algum grupo), 18% saber envelopar a informação (quanto mais caprichado um pacote, mais as pessoas vão ficar entretidas e imersas no ato de abrir, numa lua-de-mel com o pacote, como pode atestar qualquer vídeo de unpacking) e 55% ter algo pra dar em troca da atenção recebida.

Você começa a duvidar que eu consiga preencher essa última porcentagem, mas você olha a quantidade de texto que já leu e começa a pensar que devo ter alguma razão. Bem, você aprendeu algo aqui, não vai sair com os bolsos vazios. Além do mais, falta tão pouco para terminar o texto que te parece um mau negócio sair sem a conclusão final.

Porque não se pode esquecer que, para a equação ficar completa, é preciso adicionar o fato de que, não importa o que você tenha a oferecer, a chance de prestarem 100% de atenção a 100% do que você faz 100% do tempo é bastante próxima de zero. Tudo o que você vai conseguir tentando atrair a atenção das pessoas o tempo inteiro é se cansar. O que poucos se dão conta quando desejam estar no centro das atenções é que ocupar esse lugar exige um esforço tremendo, que só se consegue manter por um período limitado de tempo.

Às vezes, o máximo de atenção que você vai conseguir exigir de alguém é ir até o final de um texto. É preciso alguma habilidade e uma dose de esforço para conseguir isso, é verdade. Mas o fato de você estar lendo essa frase já te coloca numa porcentagem ainda mais especial e a um abismo de distância dos camaradas que desistiram da leitura no terceiro parágrafo. Sabe o que mais te diferencia de quem não chegou até aqui? Talvez o entendimento de que a matemática da atenção é bem menos matemática do que o título faz parecer. É uma questão de dar para receber. Saber o momento de investir a energia certa para manter a atenção de quem interessa, para o que você precisa. Não é tanto uma ciência, mas uma arte. Mas isso fica entre nós, que agora temos uma relação, depois de tantos parágrafos juntos. 

Dominar a matemática da atenção é só para quem presta atenção. Uma última frase de impacto para amarrar o sentido de tudo, como bem manda a retórica aristotélica, e também para você sair do texto com a sensação de ter chegado a uma conclusão: a de que você já tem o que é preciso para entender como funciona a arte de manter o interesse de alguém. A melhor parte: sem precisar sequer calcular uma regra de três.


Texto originalmente publicado em maio de 2018, na edição #19 de Uma Newsletter. Assine grátis se quiser dar mais atenção a textos como este:

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